sábado, 11 de outubro de 2008

Lição nr. 12

Ainda se recordam a situação-problema?
Eu relembro as mentes mais esquecidas. Alguns fragmentos dos meus "post-it" sobre o tema : Por que razão se extinguiram os Dinossáurios da face da Terra?
A equipa de Berkeley verificou que o irídio abunda também em alguns meteoritos. Esta anomalia e alguma modelação matemática conduziram-nos ao cenário seguinte: há 65 milhões de anos um meteorito com 10 km de diâmetro veio esmagar-se na superfície da Terra à velocidade de 72 000 km por segundo. O impacte veiculou uma força superior à da detonação de todo o armamento nuclear do mundo. Fez vibrar a Terra como se esta fosse um sino, ateou grandes fogos, varreu os litorais com maremotos gigantescos e ergueu uma enorme nuvem de pó que envolveu o planeta, arrefecendo a atmosfera ao bloquear a luz solar ou aquecendo--a ao aprisionar o calor como uma estufa. À medida que o pó assentava formou-se uma camada sedimentar com 0,5 cm de espessura, recheada de irídio. Depois disso, a chuva ácida lavou o resíduo da superfície durante meses ou anos. Todos estes efeitos, segundo o cenário de Álvarez, combinaram-se para exterminar os dinossauros e uma grupo de plantas e animais.
Se um impacte desta magnitude aconteceu de facto em qualquer ponto, deveria ter deixado sinais reveladores, para além do enriquecimento em irídio da superfície terrestre. Na discussão e pesquisa intensas que se seguiram à proposta de Álvarez veio à luz um indício de uma nova prova. Os geoquímicos sabem que quando o quartzo está sujeito a pressões extremas, como as que acontecem num local de impacte, fica «chocado»; a rede cristalina é quebrada e surgem planos irregulares em finas secções do mineral, que são observáveis microscopicamente entre filtros de polarização cruzada. Esses planos foram descobertos, de facto, em grãos de quartzo de algumas partes da fronteira K-T.
Neste ponto, as provas a favor da hipótese do meteorito pareciam convincentes.
Primeira regra da história da ciência: quando se propõe uma grande, nova e persuasiva ideia, um exército de críticos depressa se reúne para tentar destruí-la.
Esta reacção é inevitável, agressiva mas tolerada pelas regras do discurso civil, porque é assim que os cientistas funcionam. Também é verdade que, face aos adversários, os proponentes endurecerão a sua posição e lutarão para tornarem a ideia mais convincente. Como seres humanos que são, muitos cientistas agem de acordo com o Princípio de Certeza psicológico, que afirma que, quando há evidência a favor e contra uma crença, o resultado não é um enfraquecimento mas um fortalecimento da convicção de ambas as facções.
Durante a década de 1980, centenas de especialistas escreveram mais de 2000 páginas a favor e contra a hipótese do meteorito.
Uma pequena interrupção: um site com todos os artigos escritos desde a década de 80, possíveis teorias, etc, podem ser consultadas aqui:
http://users.tpg.com.au/horsts/crater.html (uma rápida vista de olhos e ficamos a saber que teorias são muitas!!!)
As tensões cresceram em conferências científicas, argumentos e contra-argumentos fluíram pelas páginas da Science e uma pequena indústria cresceu nos laboratórios e nas salas de seminários das universidades que se dedicam à investigação.
Regra número dois: a nova ideia terá conhecido, tal como a Mãe-Terra, algum impacte. Se este for positivo, sobreviverá, provavelmente numa forma modificada. Caso contrário, morrerá, normalmente na mesma data em que o seu derradeiro proponente morrer ou se reformar. Podem aplicar-se aqui as palavras de Paul Samuelson acerca da ciência económica: funeral a funeral, a teoria avança.
Neste caso, os críticos antimeteorito tinham a contrapor uma poderosa hipótese.
Diziam que ao fim de algumas dezenas de milhões de anos enormes erupções vulcânicas, gargantuescas como a de Krakatau ou formadas por séries concertadas de «Krakataus» vulgares, poderiam produzir os efeitos observados na fronteira K-T.
Alguns dos vulcões actuais projectam de facto elevados níveis de irídio nas suas cinzas. Poderiam também gerar pressão suficiente para «chocar» o quartzo, embora os testes de campo em curso (à data da minha escrita) ainda não tenham resolvido a questão em nenhum dos sentidos.
Os vulcanólogos e outros críticos apresentaram outra prova, ainda mais embaraçosa, para enfraquecer a hipótese do meteorito: muitas extinções situam-se de facto no fim do período Cretácico, não há dúvida a esse respeito, mas não aconteceram em simultâneo. As datas de extinção de vários grupos distribuíram-se ao longo de milhões de anos de ambos os lados da fronteira K-T. Os dinossauros, por exemplo, passaram por um declínio evidente durante os últimos 10 milhões de anos antes do fim do período Cretácico. No estado de Montana e no sul de Alberta, cerca de 30 espécies estavam presentes 10 milhões de anos antes do fim. O número decresceu gradualmente para 13 imediatamente antes do fim, com o dinossauro cornípeto Triceratops a ser o mais abundante no grupo final.


Um padrão semelhante foi seguido pelos amonóides, moluscos com uma concha dividida em câmaras como a do náutilo moderno. Foi seguido também por pelecípodes inoceramídeos, moluscos bivalves que incluíam espécies gigantes com conchas que tinham 1 m de largura, e por rudistas, outros bivalves que construíam recifes a partir da massa das suas conchas. Muitos grupos de foraminíferos, criaturas marinhas semelhantes a amebas que segregam esqueletos calcários complexos e admiravelmente concebidos, extinguiram-se por etapas ao longo de l milhão de anos. Alguns desapareceram antes do fim do Cretácico, outros mais tarde em momentos
(…)mais abundantes e facilmente interpretáveis, especialmente os grãos de pólen de plantas de flor na fronteira K-T, seguidas de um salto igualmente abrupto para os esporos de fetos — «o pico dos fetos» no registo fóssil —, a que sucedeu, pouco depois, um regresso ao pólen das plantas de flor, desta vez representativo de um conjunto diferente de espécies.
O declínio temporário das plantas de flor e a ascensão dos fetos é consistente com um inverno-fronteira, um escurecimento e arrefecimento do clima provocado pelas nuvens de poeira e fumo que durou um ano ou dois.
Algumas espécies vegetais extinguiram-se, especialmente as magnólias de folha larga da categoria geral actualmente representada por magnólias e rododendros.
Outras regressaram após algum tempo, descendentes dos sobreviventes dispersos, mas fazendo parte da mistura diferente da era pós-Mesozóica. No hemisfério sul o efeito sobre a vegetação foi menos severo.
Muitos paleontólogos debruçam-se agora cautelosamente sobre a hipótese de um encerramento súbito e catastrófico da era Mesozóica.
Um compromisso poderá estar iminente, pois quer a explicação vulcânica quer a do 'meteorito poderão ser correctas. Os dois eventos podem ter ocorrido ao mesmo tempo. Um meteorito com 10 km de diâmetro que chocasse com a Terra a milhares de quilómetros por hora abalaria não apenas a superfície terrestre, escurecendo a atmosfera, mas desencadearia igualmente erupções vulcânicas em todo o planeta. Alternativamente, uma actividade vulcânica não provocada poderia ser a chave, com o impacte de um meteorito a dar o golpe de misericórdia nos dinossauros e nos animais marinhos mais vulneráveis, durante a época a que nos acostumámos a designar por fronteira K-T.


Trabalho de pesquisa para o Portefólio

A partir do post http://blacksmoker.wordpress.com/2008/10/11/neocatastrofismo-krakatau/, os alunos vão realizar uma pesquisa para o portefólio ao longo do ano escolar, período durante o qual é possível que ocorram estes fenómenos.

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